Estou hoje sentado,
Na dor da convalescença.
Partido e escaqueirado na poltrona,
Sabendo já o que me espera:
A cor dos dias sem fim,
Entre fôlegos de azul-escuro
E de dourado,
Que escorrem, em fiapos,
Por entre os quadrados das janelas.
Dói-me o corpo,
Quebrado e quebradiço,
E a alma por ter memória;
Singram-me imagens pela cabeça,
Ecos que flutuam na sala,
Que vencem o som da voz e da televisão
E os gestos das mãos,
Feitos em vão.
Dói-me tudo, e as mãos
Largadas ao acaso sobre as calças
Ardem-me de uma dor que queima…
E antes queimasse,
Tudo à minha volta!
Mas deixo cair a cabeça para trás
E olho a janela de lado;
Afundo-me no quase-claro da sala
E descubro que, afinal,
O silêncio vazio da grande casa,
Não me faz jus à solidão.
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